Mortes por intervenções policiais na BA crescem 365% em 13 anos

Estado tem a polícia mais letal do país, com 1.464 óbitos registrados em 2022, segundo Anuário Brasileiro de Segurança Pública

Policiais participam de ação contra o tráfico de drogas em Salvador
Policiais participam de ação contra o tráfico de drogas em Salvador
Copyright Alberto Maraux/SSP-BA

As mortes registradas em operações policiais na Bahia em 2023 mostram uma tendência de aumento de casos no Estado nos últimos anos. De 2010 a 2022, os registros saltaram de 315 para 1.464, uma alta de 365% em 13 anos, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023. Leia a íntegra do documento (PDF – 10 MB).

No Brasil, a média de mortes em operações policiais registrada em 2022 foi de 238 óbitos.

A Bahia também apresentou alta de 40,6% nos casos de mortes violentas nos últimos 13 anos. Em 2022, o Estado registrou 6.659 óbitos do tipo, que contemplam casos de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora de serviço. No mesmo ano, a média de mortes violentas no Brasil foi de 1.755. 

O tema chama atenção principalmente depois de o mês de setembro deixar ao menos 60 pessoas mortas em diferentes ações policiais realizadas no Estado baiano, governado pelo petista Jerônimo Rodrigues. Além disso, duas operações policiais em julho deste ano deixaram 15 pessoas mortas. As mortes se deram em confrontos entre agentes e integrantes de facções criminosas.

O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, em entrevista à CNN na última 5ª feira (28.set.2023), minimizou os casos registrados na Bahia e disse que “não se enfrenta o crime organizado com fuzil com rosas”.

“Não vejo uma desestruturação da Segurança Pública na Bahia. É grave? É. Tem confronto? Tem. Agora, a polícia da Bahia é uma polícia boa. Tem a questão da letalidade? Tem. Mas você não enfrenta o crime organizado com fuzil com rosas. Porém, a letalidade deve ser investigada e combatida”, disse Cappelli.

Em 31 de julho, Flávio Dino criticou um cenário semelhante em São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). A operação Escudo, no Guarujá (SP), deixou ao menos 28 mortos depois de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) ser assassinado a tiros. O ministro disse que a reação da polícia paulista “não parecia proporcional”.

“Chama atenção o fato de você ter um terrível crime contra um policial, um crime realmente que merece o repúdio, a repulsa. Sendo usado, inclusive, uma pistola de 9 mm e houve uma reação imediata que não parece, nesse momento, ser proporcional em relação ao crime que foi cometido”, afirmou Dino.

Ainda de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, ao todo, o Brasil registrou 47.398 mortes violentas em 2022, das quais 6.429 se deram em intervenções policiais. A Bahia lidera o ranking de mortes violentas e tem a polícia mais letal do país, com o maior número de óbitos em operações policiais.

Em nota, a SSP-BA (Secretaria de Segurança Pública da Bahia) afirmou que, apesar dos dados do anuário, o Estado obteve sucesso em reduzir a taxa de mortes violentas de 2021 para 2022. Diz, ainda, que a taxa de letalidade policial apresentou queda de 4,3% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período em 2022.

“A Secretaria da Segurança Pública destaca que as ações policiais são pautadas na legalidade e buscando sempre a preservação da vida. Ressalta ainda que de janeiro a agosto as intervenções policiais com resultado morte apresentaram redução de 4,3% na Bahia, na comparação com o mesmo período do ano passado. Salienta também que são constantes os investimentos em equipamentos, capacitação, tecnologia e inteligência para as forças de segurança do Estado”, diz o comunicado.

A SSP-BA também declarou que o Estado faz diferentes investimentos em segurança pública, entre elas o reforço de ações para encontrar foragidos da Justiça. A medida resultou, segundo o órgão, em 1.000 pessoas localizadas.

[A Secretaria] enfatiza, por fim, o clima de beligerância entre facções. Nos últimos 2 anos e meio, cerca de 200 viaturas foram atingidas por disparos de arma de fogo durante ações ostensivas de combate ao crime organizado; 130 policiais acabaram feridos, depois de ataques dessas organizações criminosas”, afirma a nota.

autores