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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por — Brasília

om mandatos anteriores marcados pelos escândalos do mensalão e de desvios na Petrobras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem no combate à corrupção um calcanhar de aquiles de sua gestão. Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira revela que 59% consideram ruim ou péssimo o trabalho do petista nessa área.

Lula mantém Juscelino Filho à frente do Ministérios das Comunicações mesmo depois dele ter sido alvo de operação da Polícia Federal (PF), em setembro, por suspeita de desvio de recursos públicos por meio de emendas parlamentares. Deputado federal licenciado, Juscelino foi indicado para o posto pelo União Brasil.

Na pesquisa Datafolha divulgada hoje, 23% disseram considerar regular o combate à corrupção no governo Lula, e 15%, ótimo ou bom.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o levantamento foi feito no dia 5 de dezembro.

No fim do primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, 50% achavam a atuação do então presidente ruim ou péssima nessa área. Já 29% avaliavam como ótimo/bom e 19%, regular.

Bolsonaro foi eleito em 2018 com o discurso de combate à corrupção e tentando fugir do figurino de político tradicional, embora tivesse exercido sete mandatos de deputado federal.

Fome e miséria

Umas das principais marcas dos dois primeiros mandatos de Lula, o combate à fome e à miséria é visto atualmente como ruim ou péssimo por 40%. A avaliação de 31% é regular e de 28%, ótimo ou bom.

Rebatizado por Bolsonaro de Auxílio Brasil e uma das principais apostas do então presidente para conquistar a reeleição, o Bolsa Família foi retomado por Lula.

Em dezembro de 2019, 59% consideravam o combate à fome e à miséria ruim ou péssima na gestão Bolsonaro, enquanto 26% avaliavam a atuação como regular e 14%, como ótimo/bom.

O Datafolha também mediu o grau de confiança em Lula. Pelo levantamento, 40% dos entrevistados afirmaram nunca confiar no que ele diz. Já 35% responderam confiar às vezes, enquanto 24%, sempre.

A percepção se manteve estável em relação à pesquisa feita em setembro. Na ocasião, 42% dissera nunca confiar no que Lula diz, 34% às vezes, e 23%, sempre. Todas variações dentro da margem de erro.

O maior índice de confiança nas declarações de Lula é registrados entre os menos instruídos, 38%. Já desconfiam mais do petista os moradores da região Sul: 48%. Os percentuais estão de acordo com as avaliações feitas do governo Lula nesses segmentos.

Habituado a fazer pronunciamentos improvisados, Lula tem se tornado alvo de críticas até mesmo de apoiadores por gafes cometidas em declarações referentes a temas caros à esquerda. Em julho ele afirmou, por exemplo, ter “profunda gratidão” ao continente africano “por tudo que foi produzido durante os 350 anos de escravidão” no Brasil.

Em setembro, às vésperas de se submeter a uma cirurgia no quadril, o presidente disse que despacharia do Palácio da Alvorada porque não queria ser visto de andador ou muleta: “Vocês vão me ver sempre bonito como se eu não tivesse operado”. O comentário foi interpretado como capacitista.

Em outro episódio que gerou polêmica, em março Lula fez uma associação classificada como gordofóbica sobre a forma física do ministro da Justiça, Flávio Dino. Ele disse que a obesidade “causa tanto mal quanto a fome” e, por isso, o titular da pasta teria começado a andar de bicicleta. No mês seguinte, o petista se referiu a pessoas com transtornos mentais como quem tem “problema de desequilíbrio de parafuso”.

Aposta do Planalto

O Palácio do Planalto minimizou os resultados das pesquisas de opinião desta semana e aposta que os sinais de desgaste do governo Lula são temporários. Na avaliação do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, os efeitos dos programas lançados pela gestão petista ainda não chegaram a toda a população. De acordo com o Ipec, a avaliação negativa do governo subiu cinco pontos percentuais em três meses: eram 25% os que tratavam a gestão como ruim ou péssima, índice que é de 30% agora. Já segundo o Datafolha, o cenário é de estabilidade: 30% avaliavam negativamente em setembro, mesmo patamar desta semana.

— Os principais programas do governo foram reorganizados, mas ainda não chegaram nas pessoas, como o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família, PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), escolas em tempo integral. Em 2024, teremos 1 milhão de vagas no ensino integral, mas as famílias beneficiadas ainda não sabem. Governar é como uma planta, a colheita começa em 2024 — afirmou Pimenta ao GLOBO.

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